No subterrâneo da memória,
aprisionados pelas convenções,
choram o pássaro, a flauta e a criança.
O pássaro geme a liberdade tolhida,
o voo que no peito pousou.
A flauta lamenta sua sorte,
o sopro que se calou na cela,
nos cadeados de portas e cancelas.
A criança soterrada na solidão
de um jardim perdido,
como rosa murchou e desfolhou.
Mas eis que uma fada madrinha
presenteia-os com asas emplumadas
e na aurora perfumada, de mãos dadas,
partem em voo livre pelos céus incendiados.
O pássaro reaprendeu seus trinados
e canta, canta, canta...
E enche o mundo de alegria!
A flauta banhada pelo alvor da aurora
encarna Legrand e Jobim
em acordes extraordinários...
Toca a música da vida com liberdade!
E a criança, ao sol, como pipa de papel
querendo ir ao infinito,
tocando nuvens de
algodão,
solta seus sonhos
nunca vividos...
E assim reanimados, o pássaro, a flauta e a criança,
agora em rimas e
versos brancos se vestem.
Entre as dobras do
tempo
onde estão guardados sol, lua, arco-íris,
farrapos de neblina e de folhagem,
estrelas reluzentes, sementes de vida,
devaneios, loucuras
de amor,
brilha a poesia nos seus versos
imortais e libertadores que
fizeram renascer o que parecia estar morto.
Carmen Vervloet
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