sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Ninho Vazio

A vida é passageira
e o tempo quase uma ilusão,
mas mesmo assim
  guardo um ninho quentinho no coração.
Ninho vazio que aguarda ocupação,
palavras perdidas ao vento
no relento da solidão.
 
Olhe pra mim...
Encontrarás um rosto triste
e a dor que tanto insiste.
Mas tenho fé...
Resta-me ainda a última esperança...
 A de não deixar morrer minha arguta criança.
Só ela preencherá
 meu ninho com manhãs de sol,
com canto de pássaros,
ou  pedaços de amor soltos no espaço.
 
 
Carmen Vervloet

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Pé na Estrada

 
Parto, triste, mas por vontade própria,
parto sozinha para um futuro indefinido,
parto buscando corrigir a inópia
de um amor que foi tão ferido.
 
Arranco meus pés do inóspito passado,
parto para o presente que eu construo,
deixo os carinhos sangrentos e afiados,
 dos espinhos que abandonei num recuo.
 
Fui prisioneira do meu próprio corpo
que foi habitado por um rei tão torto
que demarcava os limites da minha liberdade
num enredo que não deixou saudade.
 
Se amanhã  este rei voltar a me procurar,
terá que gastar mais de um mês de viagem
para, no passado que fiquei sozinha, chegar...
E encontrará apenas a sombra da minha imagem.
 
Hoje sou apenas um pássaro livre que voa
sobre um mar que se fez de lágrimas da aflição,
a descrever círculos inebriantes de onde a mágoa escoa
deixando desabrochado, devoluto e límpido o coração.
 
Carmen Vervloet
 
 
 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Da Discórdia

 
Nas asas da discórdia voou a paz...
Ferida, pela desunião, foi gemendo sua dor!
Foi deixando para trás
sonhos, aspirações, todo seu fulgor!
Deixou um enorme vazio no coração,
uma grande desilusão!
A angústia e a tristeza tomaram
o lugar da alegria,
que era a maior mania!
Hoje já não existe esperança
de que a paz possa retornar...
A discórdia como uma bomba
explodiu-a no ar!
 
Carmen Vervloet

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Lembranças Adormecidas

Silêncio!
Não acorde minhas tristes lembranças...
Elas dormem na minha memória
acalentadas pela dor que senti.
Tudo que vivi continua a vibrar para sempre
nos túneis do cérebro ou
 no berço sangrento do coração.
As pancadas mais recentes,
sinto ainda intensamente,
as antigas diminuíram com o tempo,
mas todas se acordadas  golpeiam e abrem as chagas
e aquelas sombras caladas, hóspedes indesejadas
despertam a mesma dor.
Porque tudo o que eu senti
retumba para sempre em mim.
 
Silêncio!
Não acorde minhas tristes lembranças!
 
Carmen Vervloet
 
 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Morrendo e Renascendo

 
De amor igualmente morro e vivo
temperando alegria com tristeza,
sonhando com um coração compreensivo,
armazenando promessas no túnel das incertezas.
 
Mas sei que este é nosso destino
amar e desamar enquanto viventes,
acumular sonhos, anseios e desatinos,
nos perdermos nas escolhas inconsequentes.
 
Sei que o amor só é eterno enquanto dura
e num volver de nossos olhos esperançosos
a lança da indiferença o coração perfura.
 
Mas renascemos como lírios orvalhados
na busca de outros dias venturosos...
 Um beijo pousando nos lábios molhados.
 
Carmen Vervloet
 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Vitória

 
 
Bebi das águas de seu mar,
deitei-me em suas areias macias,
andei pelas suas ruas a sonhar,
suguei do seu povo a sabedoria.
Bebi a seiva de suas árvores
e matei minha sede.
Criei raízes,
floresci,
dei frutos.
E fiquei enamorada para sempre.
 
Carmen Vervloet
 
 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Cinco Sentidos

Eu te ofereço estas rosas frescas, cheias de madrugada,
 estes figos todos molhados de sereno
e este sol ainda sonolento todo bordado de raios dourados...
Estas coisas simples foram as únicas que encontrei para trazer.
Recebe-as com o coração, sinta o perfume que exala das rosas
que acabaram de oferecer seu néctar ao beija-flor,
morda o figo com prazer como fazem os passarinhos
e se embriague de alegria com este sol que aquece
e faz os olhos sorrirem.
Ouça o que diz a natureza e com suas mãos sinta a beleza
que ela guarda.
E depois pense em mim
e lembre-se que eu vivo nos seus cinco sentidos.
 
Carmen Vervloet

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Nossa Senhora da Penha

 
Padroeira nossa, de olhar sublime,
que do alto do penhasco por nós vela
e com sua verdade em nós imprime
a fé que todas as dores cancela.
 
Virgem da Penha, mãe amorosa,
coração tão grande, bendito alento,
mãe que protege tão carinhosa,
suprima nosso cruel sofrimento.
 
Por isso imploro, a este olhar tão terno,
zele por nós, mãe tão amiga,
aconchegue-nos neste coração fraterno.
 
Acolha-nos entre seus calorosos braços,
embala-nos com sua suave cantiga,
deixa-nos descansar neste seu regaço.
 
Carmen Vervloet
 
 
 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A Alegria da Primavera

 
Ela aguarda calmamente o inverno ir embora
 preparando-se para sua entrada triunfal,
não se importa nem um pouco com a demora,
borda calmamente seu traje especial.
 
Estação coroada por flores multicoloridas
chega dando vida aos tristes verdes ramos,
trás consigo uma alegria desmedida
incentivando o gorjeio dos sopranos- gaturamos.
 
Os campos tingidos por suas infinitas flores
fazem as borboletas conversarem baixinho,
batendo suas asas sobre tantas cores
que seu contentamento eu apenas adivinho.
 
Os pássaros ensaiam seu novo repertório,
as cascatas entoam o seu regozijo,
trinados se instalam nos jardins-auditórios,
as formigas trabalhadeiras deixam os esconderijos. 
 
As abelhas se deliciam com o néctar em fartura,
enquanto no meu peito pulsa o coração,
o vento dispersa toda nuvem escura
e como flor, minh ‘alma desabrocha em exultação!
 
Carmen Vervloet