quinta-feira, 29 de maio de 2014

Libertação





No subterrâneo da memória,
aprisionados pelas convenções,
choram o pássaro, a flauta e a criança.
O pássaro geme a liberdade tolhida,
o voo que no peito pousou.
A flauta lamenta sua sorte,
o sopro que se calou na cela,
nos cadeados de portas e cancelas.
A criança soterrada na solidão
de um jardim perdido,
como rosa murchou e desfolhou.
 
Mas eis que uma fada madrinha
presenteia-os com asas emplumadas
e na aurora perfumada, de mãos dadas,
partem em voo livre pelos céus incendiados.
O pássaro reaprendeu seus trinados
e canta, canta, canta...
E enche o mundo de alegria!
A flauta banhada pelo alvor da aurora
encarna Legrand e Jobim
em acordes extraordinários...
Toca a música da vida com liberdade!
E a criança, ao sol, como pipa de papel
querendo ir ao infinito,
 tocando nuvens de algodão,
 solta seus sonhos nunca vividos...
 
E assim reanimados, o pássaro, a flauta e a criança,
 agora em rimas e versos brancos se vestem.
 Entre as dobras do tempo
onde estão guardados sol, lua, arco-íris,
farrapos de neblina e de folhagem,
estrelas reluzentes, sementes de vida,
 devaneios, loucuras de amor,
brilha a poesia nos seus versos
imortais e libertadores que
fizeram renascer o que parecia estar morto.
 
Carmen Vervloet
 

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Sentença




Tudo de bom e mal
que se faz nesta vida
volta...
A palavra tem força
 e o pensamento também!
A conduta é imantada,
atrai felicidade ou tormento...
É ela que trás em si
 a nossa sentença.
 
Carmen Vervloet

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Versando




Juntando em letras os sentimentos
Dando vida ao que sai do coração
Vou desenhando esse acalento
Quem sabe surge uma doce canção!
 
Mas mesmo que o milagre não aconteça
Preste atenção no que eu digo
Ao poema sempre enalteça
Ele é um grande amigo.
 
E se a inspiração eu persigo
Nestes versos que componho
À criação eu bendigo
Trovar não oferece perigo.
 
O sonho voa, livre, comigo
Não pousou pelo caminho
Ele é alegria... jamais castigo
É música do meu cavaquinho.
 
Carmen Vervloet
 
 

 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Imperfeita




Nesse calendário antigo
vou arrancando uma a uma
as penas do tempo...
Fazem já oitocentos e
quarenta e cinco meses
que gesto minha alma.
Vejo o tempo quase depenado
e minha alma ainda
tão imperfeita...
Enquanto o vento, entediado,
penteia as nuvens, penso:
- De quantas vidas, iguais a esta,
precisarei para que
minha alma fique pronta
para renascer luminosa em outra vida?
 
Carmen Vervloet
 


terça-feira, 20 de maio de 2014

Aprisionado




 

Na cabeça cabe o universo
e todas suas leis,
mas o corpo é volúvel
e não acompanha seu ritmo.
Fica então o universo aprisionado
e a alma a resmungar pelo que
poderia ter sido feito e não foi...
 
Carmen Vervloet

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Intrépido





Nesta longa estrada que percorro
Encontro desvios, curvas e morros,
Esbarro em moinhos de vento
Entre inúmeros contratempos.
 
Furo o sapato, choro, machuco o pé,
Mas vou caminhando com fé
Envolvo meu corpo em escamas
Para, limpo, atravessar a lama.
 
No silêncio das estradas retas
Segue inexorável o tempo
Caminha com seu porte atleta.
 
E entre antigas lembranças
Fazendo da esperança alimento
Sigo em frente, ousando mudanças.
 
Carmen Vervloet

quinta-feira, 15 de maio de 2014

O Poema Que Não Nasceu




 Na madrugada um grande silêncio
que não fala, só escuta...
Da minha janela busco inspiração nas estrelas.
Minha alma uma paisagem em desalinho
onde pássaros presos se chocam uns aos outros.
São palavras que vibram tentando se juntar num verso,
mas o poema sai apagado e nada diz.
Em que estrela, Deus, se escondeu a inspiração?
 
Carmen Vervloet

terça-feira, 13 de maio de 2014

Sagração


 

Lembranças desprendem-se
como folhas de outono
que caem amareladas pelo tempo...
Uma emoção clandestina
que ha muito latejava escondida
parte como mensageira da alegria
e grita ao mundo que
o passado foi escola.
 
Carmen Vervloet

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Escolhas



 

No ritmo dinâmico da existência
não podemos deixar nada pra depois.
A sabedoria está em sabermos fazer as escolhas
mesmo sob escárnios e injustiças.
Em algum momento nossa verdade
virá a tona e mostraremos para o mundo
que somos o reflexo  destas  escolhas
e nosso brilho dependerá da luz
que for absorvida  pelo caminho.
 
Carmen Vervloet

sábado, 10 de maio de 2014

Ondas do Mar


 

Brancas ondas do mar
Que vestem em rendas as areias
Embalam barcos a navegar
Encrespam os cabelos das sereias...
 
Inquietas ondas do mar
Que invadem minha íntima praia
E vem buscar meu triste olhar
Que sobre seu mar se espraia.
 
Cantantes ondas do mar
Que desenham seu palco sobre a areia
Melodiosas a me incitar
A flertar com a lua cheia.
 
Revoltas ondas do mar
Que quebram este meu sonho moço
Nos meus versos a se enroscar
Neste poema que não ouço.
 
Carmen Vervloet
 
 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Laços Eternos




Mãe... Preciso tanto do seu afetuoso abraço,
Do seu colo macio que me aconchegou
Conduzindo-me segura entre eternos laços
Que com tanta sabedoria você criou...
 
Laços de amor, de compreensão e de carinho,
Laços de cumplicidade, de afeto e proteção,
Laços que me seguravam pelo caminho
Quando a vida me fazia perder o chão!
 
Ah, Mãe!  Que falta imensa você me faz!
Hoje apenas seu sorriso no porta-retratos,
Que tantas lembranças e saudade, me trás!...
 
Queria envolve-la nos meus braços neste dia,
Interromper por um segundo este ingente hiato,
Usufruir por um instante da sua doce companhia...
 
Carmen Vervloet

terça-feira, 6 de maio de 2014

Poema de Maio



 

Vem vindo maio
em sua nave coberta de flores...
Trás em seu seio
fé, amor, romance, fantasia...
Repicam os sinos:
mês das noivas, mês das mães,  mês de Maria!
Mês de oração, de sonhos e de alegria...
Mês onde chuva de felicidade
se cristaliza numa fotografia!
 
Carmen Vervloet

domingo, 4 de maio de 2014

Dois Mundos

 
Aqui dentro um sossego como se nada existisse,
um silêncio que me deixa ouvir as batidas do coração,
uma paz que liberta o espírito
e o faz passear por um mundo utópico...
As cortinas alvas abafando toda a violência das ruas.
Lá fora um tiro, um grito, um corpo estendido na calçada...
Um som estridente de sirenes dando o alarme.
 Sangue, lágrimas, lamentos, dor!
 
Carmen Vervloet