sexta-feira, 27 de abril de 2012

IMPROVISO


Subi no mais alto arvoredo,
dependurei-me num raio de luar,
contei para as estrelas meu segredo,
detalhes da maravilha que é te amar!

A lua se encheu com tanto afeto
luarizando tudo ao seu redor!
E os meus olhos de luar repletos
viram tua imagem na estrela maior.

Agarrei-a depressa e guardei-a comigo
bem dentro do fundo do coração
e depois escrevi neste improviso
como é bom por ti perder o chão!

Carmen Vervloet

quinta-feira, 26 de abril de 2012

CACOS




Guardou-me com paixão
num coração
de cristal!
No primeiro furacão
partiu-se o coração,
acabou a paixão!
Os cacos cortaram-me
a alma!

Carmen Vervloet



quarta-feira, 25 de abril de 2012

ANJOS SEM ASAS


Nascemos anjos,
à medida que crescemos
absorvemos conceitos
e preconceitos,
cresce a razão...
E a dimensão do corte das asas...
Por um tempo ainda
somos Anjos com pequenas asas,
sonhadores insistentes,
contra mentiras,
contra injustiças, contra o mal!
Mas sobreviver é preciso!
Somos mortais indecisos,
imprecisos, imperfeitos, anuentes,
ausentes, indulgentes,
carentes, viventes, duais!
As injustiças sociais, a descrença,
o desamor, a desilusão, a mesmice,
a falta de espaço
amputam de vez nossas asas.
Inertes... machucados, sangrando
já não podemos voar...
Pés colados ao chão,
transigentes,
somos arrastados pela procissão
onde o santo carregado no andor
é o “santo poder dos influentes”
cego, surdo, mudo,
“santo do pau oco!”
A nós só cabe dizer amém
ou então
usar o voto como arma
e em união vencer a guerra
contra a corrupção,
ferir mortalmente
este “santo” hipócrita,
que nada entende de sonhos
e que nós faz desistir dos vôos
além da rotina da sobrevivência.

Carmen Vervloet





terça-feira, 24 de abril de 2012

Invocação



Sou o Deus que em ti habita
estou nas ruas em que transitas
estou com fome de amor!

Não fica olhando da janela
vem pra rua, traz a panela
o teu empenho, o teu sorriso
é tudo que eu mais preciso!

Sou cada uma destas maltrapilhas crianças,
tristes, perdidas, sozinhas, sem esperança,
mendigando um pouco de amor,
suspirando por um afago, um teto, um cobertor!

Fecha a janela, escancara a porta
mostra que comigo se importa,
deixa agir sem medo teu coração!
Verás, então, perfumados botões em floração!

Faz com zelo a tua parte,
faz com desprendimento, com arte
não espera pelos que estão no poder...
Estes estão cegos... fingem não ver!

Coloca teu tijolo nesta construção,
transforma em ação a tua indignação
e verás uma ínfima, mas expressiva redução
no sofrimento maldito que me deixa aflito!

E verás meu sorriso
nos lábios destas pequenas crianças
alimentadas, protegidas do frio,
enlaçadas no teu abraço amigo
festejando entre risos
o florescer de um canteiro de esperança...

Carmen Vervloet

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Metáfora



Era uma vez...
uma pedra imperfeita,
cheia de quinas... malfeita!
Sem vida, sem coração,
Pedra fincada no chão!
.

Lá no alto da montanha,
onde o luar faz suas manhas,
propôs-se uma nova campanha...
Rolar suas arestas,
transpondo cada mínima fresta!

Deslocou-se rolando... rolando...
com determinação,
deixando acontecer o coração.
E quando chegou
ao pé da gruta
já não era mais pedra bruta.

Transformou-se num rubi delicado,
nos giros e rolagens, lapidado.
Na marra, mudou a cara
e sob raios de sol
brilhou intensamente.

Olhou-se no espelho
do riacho com espanto
e tomado de encanto
sorriu com alegria!

Rostos que Falam


Em silêncio vivo, fala o corpo...
Uma mão agitada, um sorriso morto
fala o que a boca não diz...
Tanto medo, dor, angústia, alegria ou felicidade
nos rostos vistos nas esquinas,
vielas, mansões ou bares da cidade!
O âmago expressado nos olhos
deixa o sentimento exposto!
A índole revela-se humilde, alegre, bondosa
ou arrogante, torturadora, mafiosa, mentirosa.
Rostos que tocam
como o do Papa João Paulo Segundo
um rosto humilde, sorriso amoroso,
um olhar doce e profundo...
Mas os que me tocam mais no fundo
são rostos de crianças, enjeitadas, nas ruas
com seus gritos mudos, expressões tão suas...
O eco destes gritos que se perde
aos ouvidos surdos...
O inquiridor olhar à crueldade do mundo!
Outros rostos assustam pela indiferença
rostos duros, frios, estigma do caráter hediondo,
ferozes marimbondos,
cegos para a dor dos que estão à sua frente,
de egoísmo tão doentes!...
Óculos embaçados, lentes sem grau!
Focam... apenas o próximo degrau...
Insensíveis às mazelas e procelas,
sentimentos embotados,
interesses próprios escancarados...

Os rostos são esculturas vivas!
As mais reais e precisas
talhadas pelas almas que as animam
avaliadas pelos corações que as examinam...
Os rostos falam... E como falam...
Basta olhar para o rosto dos enamorados!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

No Silêncio do Olhar


Meu coração romântico
foi buscar no semântico
um jeito diferente de se expressar
só pra falar da imensidão que é te amar...
Nada encontrou...

Buscou inspiração no azul do mar
na profundidade de suas águas cristalinas
nas suas brancas salinas
que dão tempero ao amor
e nada encontrou...

Esperou a lua cheia
e seu azulado luar
onde o tempo parece infinito
e tudo fica mais bonito
e nada encontrou...

Indagou à música que tudo inspira,
à flauta que a canção suspira,
à poesia que nela principia
dando vida aos sentimentos
e nada encontrou...

E de repente no silêncio romântico
de um simples olhar
foi que meu coração começou a falar
as mais lindas frases de amor...

Nesta abóbada transparente
neste céu incandescente
nesta onda silenciosa
na pureza desta fonte de água milagrosa
que te fiz a mais linda declaração de amor!

Carmen Vervloet

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Amadurecido


Ele venceu
guerras de ciúmes,
enxurradas de erros,
epidemias de cobranças,
vendavais de incompreensões...
Hoje, forte e enraizado,
viceja pleno e radioso
abrindo-se em flores
de compreensão,
companheirismo,
e cumplicidade.
Alimenta-se
das pequenas
parcelas de alegrias,
que somadas
resultam em felicidade.
Nada exige, oferece...
Não tenta modificar, aceita...
Não precisa de professor,
aprendeu com os erros!

Carmen Vervloet

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Desconfiança


Quando o espírito está predisposto à desconfiança
e a alma já não dá fé aos que são próximos,
rompem-se vínculos, o forte fica fraco,
a vida perde a paz e a esperança.
A segurança presa em tênues fios
não resiste ao mais simples desafio
e aos olhos do desconfiado
o consistente e a incerteza ficam embaralhados.
Ao redor nada parece harmonioso
ou forte para cumprir sua função
e intolerante e impaciente padece o coração.

Carmen Vervloet

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Angústia


Mão que aperta,
comprime o peito.
Lâmina afiada
que degola a alegria...
O laço desfeito,
o vazio no leito,
o fim da caminhada.
No confronto com a morte,
a vida sem norte,
a alma desamparada,
inconformada...
A dor insistente,
agonia presente,
evidente e persistente.

Carmen Vervloet

quarta-feira, 11 de abril de 2012

E a Vida Continua


Ontem rios de lágrimas,
a vida em preto e branco,
as cores apagadas no pranto.
Estampada no olhar,
a dor que parecia não passar...

Hoje a saudade que insiste,
a imagem que persiste
bem dentro do coração.
Mas a vida continua
e a alma segue trôpega e nua.

O coração cansado de sofrer
busca nas entrelinhas do alvorecer
motivos para preencher o vazio
da seca que sofreu seu rio
na vazão do fim silencioso e frio.

Carmen Vervloet

terça-feira, 10 de abril de 2012

Enlevo


Lá longe... no horizonte,
surge o sol devagarzinho,
um raio me faz carinho,
seu toque me faz acordar!
São raios dourados... fios de cabelo!
Meus olhos encantam-se ao vê-los,
sua luz dá brilho ao meu olhar.
Corro para a janela,
olho o céu cor de cobalto,
ouço um pássaro cantando do alto
de um pé de manacá.
Minha alma transporta-se pra lá
levando meu sonho
desnudado da camisola grená.
Arrebatada por tanta magia
entrego-me à alegria
pintada em cada nuance de cor!
Feliz, agradeço ao Senhor!

Carmen Vervloet

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Reflexão sobre a Páscoa


No passado... num tempo muito distante
um ser mais que especial sonhou um dia
por fim a qualquer sofrimento asfixiante,
fazer florescer a paz, a plenitude, a alegria!

Pensou somente na gente,
em nos conceder a libertação,
para que caminhássemos libertos em frente
colhendo os frutos da redenção.

Queria que crêssemos na vida.
Que fizéssemos outro recomeço...
Que semeássemos o bem, com generosidade desmedida,
que pelo próximo tivéssemos sempre apreço.

Entregou sua vida... seu sangue...
Por nós, seus filhos... ofereceu-se à cruz.
Caiu intrépido, dorido, exangue...
Seu nome... Cristo Jesus!

Fez a passagem do bem contra o mal...
Enunciou conceitos completos, suficientes...
Foi para nós o supremo exemplo, afinal,
mas nem sempre O seguimos, tristemente!

Carmen Vervloet

Passagem



Vai saindo deste plano mansamente...
Os pés insistentes colados ao chão
O coração lastimoso, frágil e doente
Procura alguém que lhe segure a mão...

O corpo já não responde aos seus anseios
Já não dança a dança frenética das horas...
No triste olhar, do mistério, o receio
Amando a vida não deseja ir embora...

Ontem rosa esplendorosa, envelheceu...
Procura em qual espelho perdeu a sua face
Busca em qual hora se deu o desenlace.

Num relâmpago a ponte da juventude cedeu.
E sua alma menina se quedou do corpo!
Filhos em pranto velam por um corpo morto!

Carmen Vervloet

terça-feira, 3 de abril de 2012

Despedida (Para minha Mãe, com todo meu amor)


Mãe, segure na mão de Deus e caminhe sem medo,
entre neste túnel de luz que se abre e a atrai!...
Deixe pra traz este mundo de lutas e tantos enredos
Vá em paz, siga o clarão, não olhe pra trás.

Mãe, minha melhor amiga, confidente e companheira,
acabou este longo sofrimento que tanto a desgastou!...
Já não existem entraves, dor, gemidos, nem barreiras,
Deus fez de seus atos um balanço e por mérito os aprovou.

Abrace papai, vovó, vovô, toda a família que tanto amou!
Usufrua do bem que fez e que só a abençoou...
Entregue-se a esta nova vida com a honra da plenitude
e perpasse o mistério da morte, com o passaporte de suas nobres atitudes.

Mãe, saudade... muita, tanta, imensa, infinda, vai deixar...
Mas deixa também um exemplo de amor, superação, alegria, doação...
E quando a agrura da vida a nós, suas filhas, molestar,
é só lembrarmos, como era bondoso, simples, imenso, puro, seu coração.

Mãe... Este adeus é apenas um adeus temporário, provisório...
Logo ali na frente iremos felizes, lhe encontrar e abraçar!
As suas atitudes frente à vida serão sempre nosso espelho obrigatório,
a herança que deixou foi a sua imensa capacidade de só e sempre amar, doar e perdoar.

Carmen Vervloet

Mãos de Mãe


Mãe... hoje contemplo suas mãos frágeis e delicadas
e vejo nelas marcas de dedicação delineadas...
Mãos que já foram ativas... fortes... tão determinadas,
mãos que amassaram o pão nosso de cada dia,
mãos que souberam ofertar a rosa com alegria,
mãos... onde ainda hoje vibra tanta energia...
Mãos que arrancaram o sustento da vida
com garra e determinação,
mãos que ainda se postam em oração...
Mãos que nos proporcionaram excelente educação,
que sempre mapearam da vida a direção
e indicaram o caminho do bem e do progresso...
Hoje se alcançamos qualquer sucesso
a essas mãos... santas mãos... ele é devido,
mãos que foram à luta...
Mãos que orquestraram em acordes de amor
a vida com sua delgada e suave batuta,
mãos amigas... companheiras...
Mãos de mulher guerreira!
Mãos que em cada delicado gesto
mostraram-nos um rico e intenso universo!
Mãos que nunca se fiaram na sorte
e que nos deram o suporte...
Teceram com trabalho nosso futuro,
mãos que acenderam com sabedoria o escuro...
E como a vida como a lua tem fases,
deixaram para trás o esplendor da lua cheia,
mas em cada uma dessas salientes veias
que marcam essas suas abençoadas mãos
corre o sumo do amor que a nós suas filhas
por toda uma vida devotou... E abençoou...
Um amor ilimitado entranhado para sempre
no âmago do meu ser
que eu sinto de uma forma tão intensa
que com palavras jamais poderei descrever...
Ah! essas santas e abençoadas mãos
que eu venero com toda devoção...
Que eu beijo com amor...
Mãos onde leio a mais linda oração
que nutre e nutrirá eternamente
o meu agradecido coração!

Carmen Vervloet

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Voraz


Superlativo
imperativo, presente!
Saboreia com voracidade
nacos de felicidade
consistente!
Doce ou apimentado
na medida certa,
caliente!
Em liberdade
preza a amizade
transparente!
Envolve-se na poesia
qual lua branca
silente!
Unha e carne,
afeto, coração,
estrofe da canção,
envolvente!
Passarinho cantador
livre a voar,
flor, perfume e cor,
semente!
Renasce a cada dia
na paz que assedia
insistente!
Normal, mortal,
passional, carnal,
com antecedentes!
Devora a vida
com alegria
urgente!

Carmen Vervloet