domingo, 15 de dezembro de 2013

A Menina dos Olhos Verdes (Parafraseando Quintana)

 
 
No primeiro mês a menina dos olhos verdes
Jovem e vigorosa subiu o primeiro andar...
E foi subindo mês a mês
até chegar ao décimo segundo andar,
Já então, velha, cansada e meio louca.
Todos recorriam a ela para enfrentar
as tribulações do dia a dia.
“Menina dos olhos verdes,
 você é que me dá alento,
só com você a vida se torna mais leve!
Preciso de você!”
E a menina meio anjo, meio fada,
foi adivinhando e socorrendo a cada um,
mostrando sempre novos caminhos.
Mas depois de tantos voos e tantas subidas
a menina dos olhos verdes já então velhinha,
 atordoada com o barulho dos fogos,
ensurdecida pelos gritos,
embriagada com o cheiro de tanto champanhe
atira-se em voo livre e se espatifa na calçada.
“Milagre! Milagre! A velhinha acordou outra vez criança!”
E outra criança sentindo por ela grande afinidade perguntou:
“Como é seu nome menina dos olhos verdes?”
Meu nome é ESPERANÇA, disse sorrindo!
Estou pronta para recomeçar.
 Feliz Ano Novo, amigos!
Vamos nos dar as mãos e subir com fé
o primeiro andar deste ano que acabou de nascer!
 
Carmen Vervloet
 


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Natal

 
 
A música me fez parar numa curva, lá atrás, na estrada...
Trazendo lembranças dos natais da infância
Das expectativas e vigílias nas longas madrugadas
Quando a data era, para nós crianças, da maior relevância.
 
O sapatinho, de véspera, colocado sob o pinheiro,
Todo enfeitado de bolas coloridas e neve de algodão
O curió anunciando o nascer do dia no abacateiro
E a certeza que Papai Noel teria entrado pela chaminé do fogão.
 
O brinquedo pedido no bilhete escrito com apuro
Lindamente embrulhado em papel colorido e fitas
Bem-aventuradas as crianças de coração puro
Lugar onde a inocência sempre habita.
 
Hoje o natal já não tem toda aquela magia
Perdeu-a diante de sua comercialização,
Destruídas foram as lindas fantasias
E o vazio do seu sentido se alojou no coração.
 
Carmen Vervloet
 
 
 
 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O Deus Menino


Natal,

Jesus nasceu...

E o homem esqueceu!

 

O homem vive a se aturdir...

Ele já não pode ouvir.

O homem só quer ganhar

Ele já nem se lembra de partilhar!

O homem quer intensamente viver

Ele já não pode ver!

O homem não consegue falar

O medo o faz gaguejar!

 

Natal,

Jesus nasceu...

Mas o homem nem percebeu!

 

E Jesus disse:

Homem,

Abra seu coração

E fique à espreita com atenção

Vim sob a forma de mendigo

E preciso urgente ser reconhecido.

 

Homem,

Abra seu ouvido

Ouça o clamor do povo sentido

Que dá o grito a fome

Que o mata e consome!...

 

Homem,

Abra sua inteligência

Deixe que fale sua consciência.

Eu sou a justiça, a verdade, o amor,

Misturo-me em tudo, na alegria e na dor.

 

Eu... sou aquele jovem incompreendido

Que no vício, procura à vida dar sentido.

Eu... sou a criança em formação

Que tantas vezes se perde na escuridão...

 

Homem,

Eu estou em tudo

Não me pise, deixe-me brotar...

É Natal, eu nasci!...

Vim, porque quero ajudar!...

 

Hoje é dia de amor

Pense homem, em seu grande valor...

Abra seus olhos,

Abra seus ouvidos...

E estará como eu o quero...

Comigo!...

Juntos, de mãos dadas pela vida,

Quanta coisa bonita a ser erguida...

Coisas que só o amor consegue construir

Quando a capa do egoísmo, você deixar cair!

 

Natal,

Jesus nasceu

E o novo homem

alegremente

O recebeu!

 

Carmen Vervloet

 

 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sonho Dourado

 
Um leve roçar de dedos
E à flor da pele vibravam sensações...
 No corpo receptivo, sempre o mesmo enredo,
O tanger de cordas em pulsações.
 
Na parede o relógio marcava a hora
E uma linda melodia
Vinha do long-play lá de fora,
O espelho, sempre atento, vibrava de alegria.
 
Hoje o tempo passou e tudo ficou na memória...
O espelho, no seu cristal, guardou nosso perfume,
O relógio parou preservando o apogeu da história
E o amor acabou envolvido em ciúme.
 
Apenas a aparição da lua à flor do mar
Suaviza “questo ricordo” tão antigo...
O tempo se incumbiu de abrandar
O sonho dourado que vivi contigo.
 
Carmen Vervloet
 
 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Soneto de Aniversário

Não me curvo ante as ciladas da idade...
Absorvo a sabedoria com que me presenteia,
Mas uso de minha parceira criatividade
Para suprimir tudo que nela me chateia.
 
A marcha já não acompanha a mente
Que dança ligeira entre résteas de luz,
Tecendo projetos, mil sonhos frementes,
Que suavizam este entardecer que me conduz.
 
Existe vida em cada passo que dou...
Os anos passam e as horas se vão,
 Mas ficam as marcas dos meus pés no chão.
 
As perdas vividas o tempo abrandou...
A alegria semeada no meu jardim
Perfuma minh’alma como se fosse jasmim.
 
Carmen Vervloet
 
 
 

Haicai

Seu sorriso luz
Seu corpo sol
Eu girassol
 
Carmen Vervloet

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Perfume

Gosto de me perfumar em segredo,
o perfume intensifica o que sou,
escolho meu perfume a dedo...
Ele anuncia por onde vou.
 
Perfume é marca da gente,
mistério a ser desvendado,
aguça o corpo e a mente...
Ele identifica calado.
 
Tem alma o meu perfume,
sutil como um fio de seda,
pode levar ao cume...
Capaz de acender labaredas.
 
A essência do meu cheiro
muitos haverão de lembrar,
o aroma é alvissareiro...
Tanta magia há de ficar!
 
Carmen Vervloet
 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Praças

 
As estátuas azinhavradas
guardam seu silêncio de bronze.
Os bancos de cimento
simbolizando a selva de pedras, vazios...
Apenas um ou outro mendigo
dormindo sobre sua superfície gelada.
Já não se vê carrinhos de bebê
e suas amas de avental branco...
Os riscos iminentes mantêm
as crianças reféns do computador,
presas nos seus apartamentos
 cada vez menores.
A insegurança tolhe a liberdade,
tolhe a alegria
e incentiva o medo,
provocado pela consciência do perigo.
Onde se esconde o barulho
da meninada brincando de roda,
jogando peteca, andando de bicicleta
em torno das praças?
Onde está a segurança
que existia no passado?
Ouço apenas o farfalhar das folhas
movidas pelo vento.
No mais, um silêncio sombrio...
Ninguém responde!
 
Carmen Vervloet
 
 
 
 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Algoz

O tempo mastiga os homens:
mandíbulas  frenéticas,
sem tempo pra degustar.
Alimenta-se deles sem dó
e deseja (inconsciente?)
 que logo virem pó.
O tempo sorve os homens,
como o mar sorve embarcações,
levando-as para abaixo da superfície,
num mergulho profundo e sem volta.
O tempo dejeta os homens:
o abatimento, a doença, a morte,
o silêncio, a solidão...
 
Carmen Vervloet
 
 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Apenas um Desejo

 
Gosto de ti, chuva miudinha,
dizendo coisas que não entendo,
molhando minha blusa de oncinha,
os meus cabelos soltos ao vento.
 
Adoro caminhar sob seus pingos,
pisar nas poças da calçada,
olhar as folhas fazendo o gingo,
sentir a tarde abreviada.
 
A paisagem por ti riscada
 parece uma tela abstrata
e eu pensando em nada
te ouvindo como a uma cantata.
 
Ah... Chuva fina, miudinha,
do teu sussurro se desprende
um desejo que só tu adivinhas,
o sabor daquela boca na minha.
 
Carmen Vervloet
 
 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Além da Terra

 
Por mais que insistamos
nossa alma não é da terra,
fazemos deste planeta nosso arrimo,
mas breve, aqui, nosso tempo se encerra.
 
Buscamos algo sempre além,
sinal de que este não é nosso lugar,
acreditamos no que mais nos convém
para nossa hesitação abrandar.
 
Nossa alma pertence a outro universo,
mistério que não conseguimos decifrar,
certamente um mundo bem diverso
onde, talvez, apenas exerceremos o amar.
 
A vida brilha à flor da nossa retina,
úmida de lágrimas ou por sorrisos que a ilumina,
mas esta vida é veloz e transitória,
de como a vivemos depende nossa real vitória.
 
Só Deus na sua supremacia
sabe o que do outro lado nos espera...
Entreguemo-nos a Cristo e suas profecias
enquanto buscamos halos nesta esfera.
 
Carmen Vervloet
 
 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Luisa



(Parabéns, minha querida neta! Que Deus a cubra com suas bênçãos e lhe proporcione muitas e muitas alegrias! Te amo!!!)
 
 
Se não existissem motivos,
eu juro que os criaria...
Criaria todos os motivos
do mundo para fazer você feliz!
Pediria emprestado ao firmamento
as mais lindas estrelas para bordar seu vestido
 em suave brilho, cheio de céu...
Roubaria a transparência das puras nascentes
para confeccionar seus delicados
sapatinhos de cristal.
Faria, com um raio de luar, um laço de fita
de um prateado inexplicável...
Só para enfeitar seus longos cabelos.
E com pétalas das mais perfumadas flores
acolchoaria seu caminho
para suavizar cada um de seus passos...
Ah! E um doce perfume anunciaria sua chegada...
Com o arco-íris construiria uma ponte
em sete cores ligando você a mim.
Porque Luisa, meu amor
por você é tão grande,
que por maior que seja a distância,
sinto-a tão próxima que até
posso ouvir sua respiração.
Porque, minha querida neta, você mora
E morará sempre...
Eternamente...
Bem dentro do meu coração.
 
Carmen Vervloet
 
 

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Canção da Chuva



 
E esta chuva que não passa
deixando tudo cinzento
molhando a minha vidraça
e eu que esperava bom tempo.
 
Mas tão calma é esta chuva
que parece um sussurrar
acaricia as folhas da guaraiuva,
calma se solta do ar.
 
Diz coisas que eu não entendo,
murmura por caminhos desolados,
deixa meus lábios tremendo
ansiando por um beijo molhado.
 
Trás em si uma magia de paz e de pecado,
mistérios que eu não entendo...
Nas suas águas guardados!
 
Carmen Vervloet
 
 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Libertação



Chorou... Chorou... Chorou...
E depois se sentiu tão bem
 como   o frescor agradecido
das folhas molhadas
depois da chuva de verão.
Leve como a folha que
 se desprendeu da árvore
e voou solta rodopiando
por entre o sopro invisível do vento.
E sentiu uma alegria quase despudorada
por estar vivo
e poder participar da dádiva de viver.
 
Carmen Vervloet

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Levantando Âncoras

 
O sol estende seu brilho sobre a cidade,
nos ouvidos o frêmito do vento nordeste,
meu coração à deriva entre o sul e o leste
perdido entre a superfície e a profundidade..
 
Não sei se eu vou ou fico ancorada...
Mas anseio por aquela doçura que não enjoa,
e se a vida estará amanhã mais abreviada
creio mesmo que devo tocar minha canoa.
 
Partir em busca da força que não agride,
navegar seguindo o rumo da intuição,
esquecer raiva, mágoa, revide
e aportar onde pisque a luz da compreensão.
 
Como cigarra pousar sobre uma folha amarela
E cantar... cantar... cantar... cantar...
Acompanhada por orquestra de pássaros ou à capela...
 cantar a alegria, a vida, até que me falte o ar.
 
E então desfazer as amarras, levantar âncoras, içar velas!
Navegar pelas oportunidades com ousadia,
partir pelas ocasiões favoráveis com empenho e sem tutela!
 
Carmen Vervloet