Guardados
Guardo em mim a alegria da criança,
um canto de passarinho, um voo de beija-flor,
a música que não se toca, a dança que não se dança,
e no peito um anjo rufando o tambor.
Guardo em mim um sorriso de criança
que baila em meus lábios quando estou feliz,
que me acompanha por tantas andanças
e me deixa acreditar que sou eterno aprendiz.
Guardo em mim um coração de criança
que ama a vida com entrega e paixão,
que aceita os momentos sem tantas cobranças
e não me deixa entrar com ela em colisão.
Guardo em mim um olhar de criança
que põe em meus olhos lentes cristalinas,
que me faz ver a vida com mais confiança
e não procura entender a sua confusa doutrina.
Guardo em mim a espontaneidade da criança,
um tombo na calçada, um pique no jardim,
um desejo de vida, uma fita, uma trança,
e essa obstinação que não sai de mim.
Guardo em mim a candura da criança,
uma fada madrinha, o lírio do devaneio,
um pote de mel, uma caixinha de esperança,
gaiolas abertas, voos e chilreios.
Carmen Vervloet
Um comentário:
Devemos guardar a criança que somos em algum cantinho da alma! É nosso melhor pedaço. Lindo, poema, Carmem. Abraço carinhoso.
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