terça-feira, 14 de agosto de 2007

Inverno

Inverno

Frio que chega a minha terra
Passa o mar,
Passa serra,
Vem de surpresa,
E com muita certeza
Sabe o que vai encontrar.
O mesmo quadro.
De um lado,
A moça bonita, vaidosa,
Tão bonita quanto rosa
Aquecida em seu casaco carmim,
Adornado de peles suntuosas
Feliz por vestir assim.
Do outro lado,
A criança maltrapilha,
Tiritante, encolhida,
Embrulhada em jornal.
Os lábios roxos
Tais quais violetas
Perdidas na selva.
Os olhos verdes,
Tão verdes quanto à relva,
Mas sem esperança.
Os pés descalços.
A mão estendida em súplica,
Trêmula:
“Uma esmola pelo amor de Deus”...
E os transeuntes que passam
Agasalhados.
Seguem sempre em frente...
Uns não querendo enxergar
Pois lhes dói a alma.
Vendam os olhos.
Outros que prosseguem com calma.
A calma dos embrutecidos
Pelo quadro rotineiro,
Pela ganância do dinheiro,
Pelo corre, corre da vida,
Pela responsabilidade transferida.
E a pobre criança
Cada vez mais encolhida,
Continua a tiritar.
Já não pode nem falar.
Apenas o que lhe aquece
São as lágrimas que rolam
Dos seus olhos, que da esperança
Só tem a cor.
E os que passaram
Deixaram de ver um tesouro
De valor maior que o ouro.
Só o frio a enxergou.
E já que os homens nada fizeram
Levou a criança em suas asas geladas.

Este poema foi formatado em pps pelo site
www.momentos-pps.com.br

Ficou muito bonito! Vale a pena conferir.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como escritor, vejo canção de amor verdadeiro, que retrata o lado frio e cruel da realidade. Como músico vejo poesia na alma de poetisa que traz canções nos versos. Como jurista, envergonhado, digo: por que tamanha impotência de uma nação, verde ?! (Jorge Saadi, Vitória, ES)