sexta-feira, 9 de março de 2012

Delícias da Nona

(Para minha querida avó MARIA TAMANINI PRETTI)

Ah! Que saudades do casarão da esquina
onde eu, feliz menina,
passei inesquecíveis momentos da infância,
gotas de saudades cristalizadas
num relicário, guardadas.

O cheiro da cozinha da vovó
entranhado para sempre em minha vida,
suas deliciosas comidas
feitas no fogão a lenha,
resenha da minha meninice
escrita em açúcar e meiguice.

A polenta cheirosa e fresquinha
que se cortava com linha,
disputada por tantas bocas,
tostada na chapa do fogão,
o amor que aquecia o casarão...
Nos gestos indulgentes
que saiam das mãos diligentes
da querida nona Maria
na romaria de netos
gulosos e inquietos!

Nos olhos a cobiça por tantas delícias!
O doce de carambola feito em cinco dias
uma verdadeira alquimia,
segredos da nona Maria!
Ah! Que tortura nesta espera,
o cheiro espalhando-se na atmosfera...
O doce ia ficando pretinho, pretinho...
parecia ameixa...
Sabor que não me deixa
cravado na lembrança
desta gulosa e feliz criança!

O guarda comida cheio de pão fofinho
que se comia ainda quentinho,
com café do bule azul,
o fraquinho, das crianças,
cheiro inesquecível de avó
ralhadora, mas de uma bondade só!
Nas compoteiras coloridas
delícias jamais esquecidas
os doces mais variados
junto ao pote de melado.
Ninguém podia tocar,
era um doce castigo
boca salivando, olhos de desejo...
Aguardando vovó autorizar.

Vovó era tão doce, quanto os doces que fazia!
Era magra, esguia, pouco comia,
seu prazer era oferecer seus quitutes,
seus vinhos, licores e chucrutes!
Nossa inesquecível nona Maria,
guerreira, sábia, bondosa,
sempre cheirando a rosa
que cultivava com amor no seu jardim,
junto ao pé de alecrim.

Como num filme
as cenas vão passando diante de meus olhos,
uma a uma, nítidas, coloridas
trazendo um sabor de saudade à minha vida...
Cenas onde fui protagonista
no seio de uma família feliz,
minha origem, tronco e raiz.

Carmen Vervloet

Nenhum comentário: